Processos Seletivos de Produto  #02 - Encontre e seja encontrado
Raphael Farinazzo

Raphael Farinazzo

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Este post faz parte de uma série (de 4 conteúdos) sobre como se preparar para um processo seletivo de Gerente de Produto. Abaixo a lista completa dos textos desta série:

  1. Em busca do emprego ideal
  2. Encontre e seja encontrado
  3. Avaliação de fit cultural - RH ou time
  4. Avaliação técnica - entrevistas ou cases

No artigo anterior, falei um pouco sobre a procura do emprego ideal, mas em paralelo a isso, existe um trabalho de saber evidenciar aquilo que você tem de bom e ficar por dentro das vagas abertas, que às vezes não são anunciadas.

Hesitei um pouco para usar essas duas expressões, tão bestas quanto maltratadas, quiçá até odiadas, mas a verdade é que você precisa investir no marketing pessoal e em fazer networking. Desculpe, não tem outro jeito de dizer isso.

Mas vamos pensar melhor em como fazer isso de um jeito agradável para todo mundo.

A última coisa que o mundo precisa é de mais discurso vazio de autopromoção na timeline do LinkedIn.

Não seja essa pessoa.

O primeiro aprendizado talvez seja o de como fazer networking – sem ser chato

Dá trabalho, toma tempo, mas é muito mais proveitoso para ambos os lados.

Uma das coisas que me mantém em contato com as pessoas da área é que eu tenho um monte de dúvidas e de coisas que eu gostaria de aprender. Isso me leva a procurar constantemente as pessoas que eu considero referência no assunto para pedir algumas dicas a respeito.

No início, você pode mandar uma mensagem se apresentando e pedindo uma “luz”. Tem gente que responde, e pode ser o início de um contato profissional. Tem gente que não responde, então já faça isso com 2 ou 3 pessoas.

Ainda assim, evite fazer perguntas que poderiam ter sido facilmente respondidas no Google. Se esse for o caso, deixe minimamente claro que você já procurou pela resposta mas continua com dúvidas.

Exemplo de como fazer do jeito errado:

“Olá, estou querendo aplicar um Teste A/B no meu produto e vi sua palestra a respeito. Alguma dica?”

Exemplo de como fazer do jeito certo:

“Olá, tenho lido sobre Teste A/B e acredito que a técnica poderia me ajudar bastante. Porém, tenho um problema específico XYZ que dificulta a aplicação do experimento, e não encontrei nenhum material que me ajude a contornar isso. Vi sua palestra a respeito e pensei em entrar em contato. Teria alguma bibliografia para indicar? Ou, quem sabe, podemos bater um papo rápido sobre?”

Eu recebo constantemente essas mensagens e procuro responder todas, mesmo que com certo atraso. Depois de um tempo respondendo dúvidas muito parecidas, geralmente eu escrevo um artigo e começo a responder indicando o link! É uma forma de escalar o conhecimento e continuar atendendo a galera.

Participar de alguma comunidade ou ir a meetups e eventos também é importante

Tudo que falei acima pode ser feito presencialmente em meetups, e com muito mais chances de te responderem!

No geral, comunidades de slack como MindTheProduct e Mulheres de Produto (se você for mulher) vão te colocar mais perto de pessoas interessadas em trocar conhecimento.

Algumas comunidades são fechadas, como é o caso do Produto.io, que só inclui por convite e você já precisa atuar como PM / PO / Head / etc, ou do slack da PM3, que é só para instrutores e alunos. Se é o seu caso, procure fazer parte.

Ainda sobre os meetups, é bem comum trabalharem com formatos que permitam interação com o público: painéis, mesas redondas, “Ask Me Anything”, fishbowls etc. e isso favorece que você diga o que está estudando agora e peça dicas da galera.

Lembre-se de não sair perguntando qualquer coisa sem ter nem procurado antes a resposta por conta própria, porque isso é bem chato e vai acabar atuando contra você.

Por último, acredito que a melhor oportunidade de networking que temos no Brasil é a Product Camp. Em 2018, o evento reuniu mais de 800 profissionais de Produto e Design para dois dias de conteúdo e networking. Além disso, ainda tinha stands de algumas das empresas que costumam ter as melhores vagas de Produto do Brasil. Fique de olho, que em dezembro vai ter a próxima edição.

Vale a pena fazer cursos? Certamente!

Para quem está começando na área, um curso presencial bacana é o Product Arena, mas também tem workshops interessantes nas principais cidades do Brasil.

Online, não conheço um curso em português mais completo que o da PM3. São mais de 40 horas de vídeos, além de atividades e interações com os instrutores. É excelente para nivelar seu conhecimento, mesmo que de maneira generalista, a respeito dos principais temas de produto.

Todos esses vão te ajudar a conhecer mais pessoas da área, ampliar seu networking e ser encontrado pelas melhores vagas.

Além disso, no slack de alunos e instrutores da PM3 sempre rolam umas vagas legais para PMs.

Você não precisa ser o “palestrinha”

Para quem gosta, é legal dar palestras, escrever artigos e compartilhar conhecimento. Mas está longe de ser obrigatório para arrumar um bom emprego. Faça isso apenas se você gostar e fizer sentido para você.

Tenho participado do recrutamento e seleção de PMs nos últimos 3 anos, então falo com tranquilidade: tem muita gente boa que não aparece tanto, e ainda assim não tem dificuldade de achar boas vagas. Por quê? Networking.

Mas aprimorar seu LinkedIn não vai fazer mal…

…desde que seja baseado em verdades.

Escreva pouco, mas escreva bem. Afinal, comunicação é uma habilidade essencial para PMs.

Alguns conceitos de webwriting podem ajudar bastante, principalmente relativos ao uso de frases claras e parágrafos curtos.

Na ordem, o que mais gosto de ver em perfis do LinkedIn:

  1. Resultados e métricas que você impactou.
  2. Responsabilidades que exerceu.
  3. Atividades que você realizou (no máximo 5 por cargo, e textos curtos).
  4. Cargos que ocupou e por quanto tempo.
  5. Empresas por onde passou e por quanto tempo.

Vejam um exemplo real bem bacana, utilizando os itens 1, 2 e 3:

Bastante ênfase no item 1. Se você consegue explicar como triplicou a receita da empresa X quando passou por lá, escreva no seu LinkedIn (se puder) que você fez isso e eu certamente vou querer perguntar como.

Se não for possível, exercite a concisão no item 2. Diga qual era sua missão ou principal responsabilidade. Com sinceridade, sem muitos floreios, porque eu também vou querer perguntar sobre isso.

Na maioria dos casos, a maneira como você expressa o que você fez nos lugares por onde passou já passa (ou retira) alguma credibilidade.

Tenho olhado cada vez menos para graduações, pós e certificações, porque elas não são indícios tão claros assim da qualidade do seu trabalho.

Recomendações e endorsements seguem o mesmo barco e, no geral, mostram mais sobre sua popularidade do que sobre sua capacidade de entregar valor.

Tem várias dicas de SEO para LinkedIn que ajudam seu perfil a ser encontrado, mas use-as com muita cautela, porque tem dicas ruins no meio. A mais importante acredito que seja “pensar por palavras-chave”, ou seja, utilizar palavras que recrutadores poderiam buscar. A mais básica é produto / product, claro.

Outra dica legal é não misturar os idiomas. Tenha um perfil em português, outro em inglês. Se não souber como, veja na ajuda do LinkedIn.

Como você encontra as melhores vagas?

A participação em comunidades já vai colocar você bem perto das vagas anunciadas. Em quase todas as comunidades de slack você vai ter um canal #jobs com várias vagas interessantes:

Além disso, fique de olho nos Job boards:

Tem outros, mas esses são os que mais ouço falar em relação a vagas de Produto.

Lembrando que várias vagas nem chegam a ser abertas em lugar nenhum. Muitas empresas preferem confiar em indicações, networking e busca ativa (principalmente no LinkedIn) para preencher vagas.

Neste caso, vale as dicas lá do começo: networking, comunidades e um perfil simpático no LinkedIn.

Alternativa para quando não há vagas anunciadas

Se você quer muito trabalhar em uma empresa que não está com vagas anunciadas no momento, o que você pode fazer é se aproximar das pessoas que trabalham lá.

Foi assim que fui parar na Resultados Digitais em 2015:

Eu nunca havia falado com o Bruno Ghisi, mas ele me respondeu e me encaminhou direto para a área de recrutamento.

Talvez se fosse hoje, pela escala que a RD tomou, ele demorasse bem mais ou nem respondesse, então escolha bem seus destinatários na hora de fazer isso.

Tem bastante material na internet sobre cold mailing, mas a maioria focado é em vendas. Para job hunting, dicas simples:

  • Apresente-se em poucas palavras
  • Se não for via LinkedIn, deixe um link para seu perfil no LinkedIn.
  • Declare sua intenção em poucas palavras.
  • Peça alguma coisa claramente (uma call, um endereço de e-mail para enviar algum material, o contato de alguém que possa te ajudar).

E sempre, sempre escreva a mensagem mais curta que você puder.

Quem eu costumo indicar?

Como o mercado está aquecido, duas coisas são bem comuns na minha vida:

  1. Empresas e consultorias me procurarem oferecendo vagas que não estão anunciadas.
  2. Pessoas me procurarem perguntando se eu estou sabendo de alguma vaga.

De maneira bem informal, eu costumo conectar essas duas partes, mas eu tomo bastante cuidado com essas indicações, por vários motivos:

  1. Não sei se as vagas são legais.
  2. Não sei se as pessoas são legais.
  3. Não sei se as vagas têm a ver com as pessoas e vice-versa.

Recomendar é algo que só vou fazer se já trabalhei com você ou se tenho bastante referência do seu trabalho.

Ainda assim, o networking pode te ajudar a pelo menos saber das vagas abertas. A partir daí, você está por conta própria!

Por onde começar?

O básico — mas que pouca gente faz — é começar fazendo uma lista de empresas para as quais você gostaria de se candidatar. Se você quiser se organizar melhor, um board no Trello.

Isso vai ajudar bastante na hora de fazer follow-ups, e eles são bem importantes. Você não quer seu e-mail caindo no spam. Por padrão, eu costumo incluir um “por favor, confirme recebimento” e se não chega nada em dois ou três dias, faço um follow-up por e-mail ou outro canal.

Feita a lista, siga os passos do artigo anterior e se candidate.

Bônus: e para quem está migrando?

Se você ainda não trabalha com Produto e está querendo entrar nessa área, a dica de meetups e cursos se torna ainda mais importante.

Mas tem um bônus neste caso: você precisa acumular alguma experiência com as técnicas de gestão de produto, e a melhor forma de fazer isso é usar a empresa onde você está no momento.

No geral, tenho visto duas formas de entrar na carreira de Produto:

1. Migrando internamente na sua empresa, seja “cavando” a vaga (caso não exista), seja se candidatando para um processo de job rotation.

2. Passando no processo seletivo de alguma vaga que não exija experiência prévia (são raras, mas dá para encontrar).

De memória, vamos listar algumas técnicas importantes para PMs:

  • Entrevistar clientes e identificar oportunidades para o produto.
  • Analisar dados e extrair insights para investigação posterior.
  • Realizar experimentos (o básico do básico de um Teste A/B – Assista à PM3 Lives sobre Cultura de Experimentos para saber mais).
  • Priorizar com base em dados e usando alguma ferramenta (sugiro começar pelo RICE).
  • Conquistar buy-in de stakeholders
  • Liderar pela inspiração (sem crachá!)
  • Ter alguma vivência com fazer software e com a dinâmica de um time de software.

Se a sua posição atual permite colocar qualquer um desses conjuntos de técnicas em prática — quanto mais, melhor! — comece hoje.

Duas coisas vão acontecer: você começará a ter resultados reais para compartilhar durante um processo seletivo e você acumulará toneladas de dúvidas a respeito (Será que estou fazendo do jeito certo? Como fazer melhor? Esses problemas que estou enfrentando são normais?).

Essas dúvidas vão te fazer estudar mais e aquelas que você não conseguir resolver, serão ótimos quebra-gelos para conversas de networking.

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