Como funciona a área de Produto no Globoplay
Marcell Almeida

Marcell Almeida

CEO – PM3

9 minutos de leitura

Panorama do Mercado de Produto

Essa série é para compartilhar com o Brasil e o mundo como as empresas estão estruturando a sua área de desenvolvimento de produto para construir produtos cada vez melhores. Espero que esse e outros artigos da série sirvam de benchmark para qualquer empresa e em qualquer estágio, pois estaremos conversando com diferentes tamanhos de empresas.

Nesta edição vamos falar sobre como funciona a área de desenvolvimento de produto do Globoplay. E para responder diversas perguntas contamos com a ajuda de algumas pessoas que trabalham lá, sendo elas a Roberta Luzio, Denis Fernandes e Edgard Lima, que respectivamente atuam como Product Managers nas tribos de Navegação, Consumo e Acesso & Relacionamento, bem como também Daniel Monteiro, que é Head de Desenvolvimento de Produto & Tecnologia no Globoplay.

Obrigado por compartilhar e ajudar a comunidade brasileira de Produto, pessoal 🙏

Essa entrevista foi dividida em 4 aspectos:

  1. Equipe
  2. Planejamento
  3. Cerimônias
  4. Ferramentas

1. Equipe

  • A Globo é conhecida por diversos produtos digitais como o portal da Globo.com, Cartola, Gshow, Globoplay e vários outros. Como funciona a divisão desses produtos?

R: A Globo é referência em tecnologia no mercado brasileiro desde os primeiros investimentos no núcleo digital, há mais de 20 anos. A partir de 2018, com a integração das empresas, passamos a centralizar o desenvolvimento de todo portfólio digital de produtos e plataformas da Globo, incluindo Globoplay, G1, GE, Gshow e Home Globo.com, em uma área que chamamos de Hub Digital. Além da área de Produto, o Hub Digital também conta com outras áreas, como a de plataformas, que produzem tecnologias que aceleram a evolução desses produtos. 

  • Quantas POs/PMs atuam diretamente no Globoplay?

R: Atualmente temos um grupo composto por 15 PM/POs que estão presentes nos diversos times responsáveis pelas jornadas do produto. 

  • Para entendermos a proporção entre PMs e o resto da Globoplay, quantas pessoas são no total?

R: Temos hoje aproximadamente 160 pessoas dedicadas diretamente ao desenvolvimento do Globoplay, dentre elas a grande maioria é de desenvolvedores, mas também estamos considerando aqui os agilistas, designers e cientistas de dados. 

  • Como vocês estruturaram suas equipes? Em torno de produtos, tipos de usuários, jornada do usuário, métricas ou um mix?

R: Um mix, dado que temos 3 PMs que se dividem em tribos por jornadas (navegação, consumo e acesso & gerenciamento) que por sua vez se subdividem em 14 squads em torno do produto. Cada squad é composta por um time multidisciplinar com um Product Owner, UX, agilista, cientista de dados e desenvolvedores.  

  •  Como isso mudou ao longo dos anos – em especial com a mudança que houve na empresa para focar mais no Globoplay nos últimos anos?

R: No início da criação do Globoplay, éramos um time ainda pequeno e dividido por plataformas (web, iOS, Android, TVs). Com o Globoplay ganhando relevância no portfólio, tracionando como negócio e sendo uma aposta estratégica da empresa, precisávamos acelerar o desenvolvimento do produto e para isso os times foram crescendo. Porém, com esse aumento dos times, fomos percebendo que a complexidade na gestão de times grandes se tornava um problema. Daí resolvemos transformar nosso modelo para o modelo de squads multidisciplinares responsáveis por jornadas. 

  • Como foi essa mudança? Quanto tempo levou?

R:  Não foi uma mudança fácil, pois existe uma parte cultural e de modelo operacional que são complexas. Precisávamos organizar times diferentes de desenvolvimento trabalhando de forma compartilhada no mesmo código e o modelo deveria garantir também a qualidade além da velocidade. Ao mesmo tempo que isso acontecia, o Globoplay, lançado em novembro de 2015 como uma plataforma de streaming do canal aberto da TV Globo, também se transformava com o negócio e passou a ter uma oferta de canais lineares (ao vivo) da PayTv, além da produção de conteúdos originais. A evolução do produto precisava acompanhar a evolução do negócio, e essa mudança de modelo de trabalho foi fundamental para que nós conseguíssemos estar lado a lado, seguindo o modelo MediaTech.

  • Produto e Design reportam para a mesma pessoa? Sempre foi assim ou mudou?

R: Não. Trabalhamos com modelo matricial, onde os designers ficam alocados dentro dos squads do produto, porém a gestão das pessoas fica em uma diretoria específica de experiência.  

  • E a gestão de engenharia? É um par da liderança de produto? 

R:. Já tivemos Produto e Engenharia com lideranças diferentes, mas hoje ambos reportam a um mesmo gestor. Acreditamos que não existe um modelo certo ou errado, varia de uma empresa para outra, mas esse formato nos possibilitou uma aproximação muito importante entre os times de Produto e de Desenvolvimento, reduzindo muitas fricções que existiam no nosso processo e trazendo resultados praticamente imediatos. Seguimos então até hoje nesse modelo e evoluindo o processo a cada dia. 

  • O Globoplay, ou Globo como um todo, tem carreira em Y? Se sim, como funciona?

R: Sim, a Globo possui o modelo de carreira em Y. Além da carreira convencional de gestão de pessoas, começando com coordenação, gerência, temos também o cargo de especialista. São cargos equivalentes aos cargos de gestão, porém são pessoas que focam em evolução técnica ao invés das atribuições de gestão de pessoas. 

  • Como é a relação da equipe do Globoplay com as outras equipes do Grupo Globo? As coisas são bem apartadas ou existe um trabalho em conjunto maior?

R: O time de Produto do Globoplay tem uma interface muito próxima e direta com diversos outros times, em especial com os de Negócio, Marketing, Editorial e Inteligência, visando o equilíbrio constante entre os objetivos que cada um deles e sempre em busca do melhor resultado para o negócio e para o usuário. 

2. Planejamento

  • Até que ponto (data/período) vocês planejam as coisas?  

R: Trabalhamos no modelo de quarter, com objetivos quebrados em ciclos menores de 3 meses e entregas e avaliações constantes de resultados. Porém, também temos um planejamento de médio e longo prazo em uma visão de roadmap que serve de guia por aproximadamente um ano.  Esse roadmap vai sendo revisitado constantemente dentro de um modelo ágil, e ele nos possibilita antecipar questões e objetivos que são mais complexos e que não cabem dentro do horizonte curto de 3 meses do quarter

  • O lançamento de novas séries, realities, filmes ou novelas impactam muito nesses planejamentos? 

R: Somos um negócio muito ligado à força dos conteúdos que são lançados. Isso se torna ainda mais expressivo quando falamos de conteúdos ao vivo, como por exemplo Copa do Mundo, Olimpíadas, Rock In Rio, BBB. Procuramos aproveitar esses lançamentos como oportunidades para trazer algum diferencial no produto. Conseguimos nos planejar para isso com antecedência e temos alcançado evoluções muito relevantes no produto como consequência desse formato de atuação. Buscamos como diretriz sempre desenvolver algo que fique depois como um legado para a experiência do usuário e possa ser novamente aproveitado em outras oportunidades. 

  • Vocês usam OKRs ou alguma metodologia específica para ajudar no planejamento e alinhamento?

R: Usamos OKRs e objetivos estratégicos do Produto que orientam o nosso roadmap e fatiamento entre os quarters

3. Cerimônias

  • Como funcionam as reuniões de product review?

R: Como somos muitos times envolvidos no desenvolvimento do produto, é fundamental termos transparência e alinhamento entre todos esses times. Para isso fazemos reviews recorrentes e quinzenais a nível de times, mas também temos as cerimônias oficiais do planejamento e review de cada quarter, além de um review maior ao final de cada ano, juntando todas as evoluções mais relevantes do período. Também podemos ter reviews específicas fora das agendas de quarter planning para dar visibilidade sobre um tema especial. 

  • Quem participa dessas reuniões? Qual a frequência e quem toca elas?

R: Todas as pessoas envolvidas no Globoplay, direta ou indiretamente, são convidadas para essas sessões. O objetivo é dar essa transparência e alinhamento para todos os stakeholders

4. Ferramentas

  • Qual é a principal ferramenta que vocês usam? 

R: Usamos o Jira como ferramenta de gestão e acompanhamento de toda nossa esteira de desenvolvimento, o Confluence para documentações dos times, além do Teams e Slack como ferramentas de comunicação. Porém, dentro do trabalho mais específico nos times damos liberdade para usarem a ferramenta mais adequada. 

  • Existe algo único, que talvez seja até cultural, na forma que vocês criam e melhoram produtos?

R: A Globo tem valores como qualidade, estética, inovação, que procuramos trazer  de alguma forma para nosso processo de desenvolvimento de produto. Por sermos um produto de streaming também temos que estar presentes em TVs, fazendo nossa visão de multiplataforma atender uma quantidade de devices diferentes muito grande e precisamos garantir uma experiência consistente por todos eles. Outro fator é estarmos atrelados a conteúdos da Globo, que geram muita repercussão e também volumes de acesso muito grandes. Ou seja, as coisas nunca são um universo pequeno para a gente. Acho que tudo isso cria uma situação de certa forma única para nosso modelo de trabalho, que consequentemente reflete no produto que criamos, tanto em desafios que enfrentamos quanto nos resultados que atingimos. 


Obrigado pelas respostas, pessoal!

Para saber mais sobre o Globoplay, visite globoplay.globo.com, conecte-se com www.linkedin.com/company/globo no LinkedIn e veja as vagas abertas no Globo!

PS: Já tenho algumas empresas programadas para esta série, mas sigo buscando outras. Acha que sua empresa poderia fazer parte? Me manda uma mensagem em alguma rede social 🙂 

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