O custo da terceirização de longo prazo de serviços de TI
Vanessa Lopes

Vanessa Lopes

Product Owner na Tmov

6 minutos de leitura

Panorama do Mercado de Produto

A terceirização de serviços de Tecnologia da Informação (TI), dentre eles alocação de engenheiros, desenvolvedores e até mesmo gestores de projetos e produto, em times completos ou não, tem sido uma prática adotada por muitas empresas no mundo todo. De acordo com o relatório “Mercado de terceirização de TI – crescimento, tendências, impacto do COVID-19 e previsões (2023-2028)” da Mordor Intelligence, o mercado global de terceirização de Tecnologia da Informação foi avaliado em US$ 526,6 bilhões em 2021 e deve atingir US$ 682,3 bilhões até 2027, registrando um CAGR de 4,13%, durante o período de 2022-2027.


Isso se deve, sobretudo, ao fato da terceirização oferecer não apenas redução de custos e eficiência operacional, mas também flexibilidade para as empresas escalarem suas operações de TI de acordo com as necessidades do negócio. Assim, não há a necessidade de contratar e treinar internamente uma equipe em tempo integral, por exemplo, o que pode despender muito mais tempo e esforço.

Problemas da terceirização a longo prazo

Apesar de parecer uma alternativa extremamente positiva, descobriremos que a estratégia da terceirização pode gerar dependência excessiva e prejuízos significativos no longo prazo, se não definida e utilizada com cautela.

Neste artigo, discutiremos alguns dos problemas envolvidos nesse tipo de relação e como isso pode se tornar uma “bola de neve” contratual, sobretudo no processo de autonomia tecnológica de empresas em transformação digital.

1) Prejuízo de foco e estratégia

Um dos primeiros e mais importantes pontos a se observar em terceirizações de longa data nessa área é que, muitas vezes, elas levam a uma perda de controle e foco nas áreas estratégicas de negócio e de produto. Ao transferir a responsabilidade principalmente de atividades ‘’core’’ para fornecedores externos, as empresas podem se ver em uma posição de passividade, dependendo do fornecedor contratado para tomar decisões e implementar soluções técnicas em sistemas que, muitas vezes, são indispensáveis para suas operações. Isso pode ocasionar uma falta de alinhamento com as suas próprias metas e objetivos macro, além de dificultar a inovação e a diferenciação no mercado.


Quando os serviços de TI são terceirizados, é comum que o fornecedor siga uma abordagem mais genérica e padronizada das soluções, buscando atender vários clientes de forma massiva. É comum encontrarmos soluções abrangentes que não se adaptam às necessidades de um contexto específico, comprometendo eficiência e competitividade daquelas frentes. Além disso, a falta de controle direto sobre as atividades “core’’ pode limitar a capacidade da empresa responder rapidamente às mudanças do mercado e implementar melhorias estratégicas.

2) Sistemas legados e manutenção

A perda de expertise interna também é uma preocupação significativa quando o assunto é dependência tecnológica. Quando se terceiriza, a longo prazo, serviços de TI, ocorre uma diminuição gradual do conhecimento e das habilidades técnicas internas. Os sistemas vão se tornando “legados”, começam a se tornar obsoletos dentro das rotinas da organização, tendo em vista a rápida velocidade com que a tecnologia (como um todo) tem avançado no decorrer das últimas décadas.

Enquanto isso, os funcionários internos perdem a oportunidade de adquirir conhecimento e desenvolver habilidades essenciais para o negócio que pode começar a crescer e se tornar intrinsecamente tecnológico, ou seja, não conseguir se manter competitivo sem depender daquela tecnologia. Nesse contexto, a terceirização cria uma verdadeira bola de neve, que desencadeia suscetibilidade a aumento de preços da contratação, mudanças no padrão de qualidade do serviço e até mesmo à possibilidade de um fornecedor encerrar suas operações e deixar o cliente dependente daquela tecnologia em grandes problemas.

Além disso, a falta de controle direto sobre atividades de TI pode levar a uma maior burocracia e ineficiência na resolução de problemas. A empresa pode ficar presa em um ciclo de solicitações de suporte e dependente do tempo de resposta e resolução do fornecedor, resultando em atrasos significativos nas manutenções de sistemas legados, aumentando os custos operacionais e prejudicando a produtividade mais uma vez!

3) Tratamento de Dados

Inevitavelmente, a terceirização envolve compartilhamento de informações que podem ser pessoais, confidenciais e/ou sensíveis com terceiros. Hoje, como evoluímos rapidamente em tecnologia, utilizando-a cada vez mais em todas as atividades do nosso dia a dia, há uma crescente preocupação com relação à proteção de dados pessoais.

Uma vez que esse tipo de acordo envolve compartilhamento, também se aumenta o risco de exposição de dados, violações de segurança e problemas de conformidade com leis e regulamentos, como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) aqui no Brasil. As consequências dessas violações podem ser graves, resultando em multas, perda de reputação e restrições de operação. Para maiores detalhes sobre esse tema, recomendo a leitura do artigo Pensando em segurança e privacidade na gestão de produto.

Conclusão

É importante esclarecer que a terceirização não é necessariamente negativa em todos os casos. Existem situações em que pode trazer diversos benefícios: como a possibilidade de acesso a especialistas disputados no mercado, redução de custos operacionais e aumento da flexibilidade, como citamos inicialmente.

No entanto, é essencial que as empresas comecem a avaliar cuidadosamente os riscos e os custos envolvidos antes de optarem pela terceirização de atividades principais ou etapas centrais das suas atividades. O que parece mais rápido e “barato” pode se tornar moroso e dispendioso no decorrer do tempo.

Uma opção que vem sendo bastante adotada são as abordagens híbridas, de manter equipes internas de tecnologia e produto para cuidar das atividades principais e, ao mesmo tempo, terceirizar serviços complementares ou não essenciais. Dessa forma, mantém-se o controle e a governança de tecnologia, ao mesmo tempo que se aproveita os benefícios da terceirização pontualmente.