Como construir um time de Produto: a realidade na prática - Cursos PM3
Taynara Rechia

Taynara Rechia

Lead Consultant | Technical Product Manager

9 minutos de leitura

10 Perguntas e respostas em entrevistas para Analista de Dados

No universo de produtos, temos atualmente uma infinidade de ferramentas, técnicas, métodos e cursos que nos ajudam da melhor forma como montar um time de produto, fazer uma entrega de valor, como construir o produto certo, como ser o mais assertivo possível ao resolver os problemas e dores das nossas clientes.

De ponta a ponta você sabe o que fazer, do discovery a entrega, definição das métricas para medir os resultados, aprender com os dados e começar novamente de forma mais dinâmica e interativa possível. E isso é fantástico! Atualmente temos produtos incríveis no mercado por conta disso. 

Mas hoje eu quero falar da prática, e que nem sempre o universo de produtos vai funcionar no dia a dia como a gente gostaria mesmo tendo tudo isso em nossas mãos.

Quando falamos que trabalhamos em um cenário de incertezas e mudanças constantes, essa é uma das maiores realidades da nossa área, e por vezes a prática foge do controle e não conseguimos seguir exatamente o que nos dedicamos tanto a aprender para tentar ao máximo exercitar com excelência na construção de nossos produtos. Mas por que eu venho falar isso?

O time que constrói o produto precisa estar engajado

Porque nós trabalhamos com pessoas, diariamente nos comunicamos com muita gente, porém, com um foco maior no nosso time, e quando esse time não vai bem, você pode ter todas as ferramentas, o produto mais incrível, as melhores ideias, mas nada disso vai ter sucesso sem esse time engajado e motivado.

Quando falamos de times de produtos, pensar quais são os princípios fundamentais que esse time precisa ter para ajudar a resolver um problema é até fácil de dizer, mas lidar com isso na prática é um enorme desafio.

Recentemente meu time passou por uma mudança brusca de produto e isso mexeu muito com a estrutura e psicológico das pessoas, que já vinha sendo de certa forma abalada com outras mudanças recorrentes. Pessoas entrando e saindo do projeto, um MVP sendo iniciado e parado várias vezes no meio do caminho para iniciar outras features com maior prioridade.

Sendo parte da liderança do time e também alguém afetada com essas mudanças, sem deixar de me preocupar em entregar o produto com qualidade e o valor que a cliente espera, foi o momento que eu parei para refletir muito sobre isso, pensar não mais somente no problema da cliente mas agora no problema do time, dar um passo atrás, observar tudo e em como eu poderia ajudar a mudar isso.

E só uma observação aqui, o time sempre foi algo importante e que teve atenção da liderança. Mas como eu disse anteriormente, às vezes as coisas fogem do nosso controle.

Dando os primeiros passos: alinhamento e co-criação

Bom, o primeiro passo foi aceitar que uma organização é viva e que algumas coisas que funcionam agora provavelmente não vão funcionar amanhã, daqui uma semana, um mês ou mais, porque não vai mais fazer sentido.

Trabalhar o desapego é difícil até na nossa vida pessoal, mas é algo extremamente necessário. E a partir daqui, você já começa a pensar na reorganização, seja de atividades suas, do time e atribuição de novas responsabilidades para ir se adaptando ao momento presente.

Ter transparência sempre, com seu c-level ou outras lideranças que você responde diretamente, e com sua cliente, para construir um ótimo relacionamento de confiança ao longo do tempo.

Trazer essas pessoas o mais próximo possível nesse momento, e mostrar que mesmo fazendo todo trabalho os desafios ainda estão sendo maiores do que o esperado, vai ajudar a ganhar empatia, compreensão e gratidão. Em reuniões estratégicas, o seu time vai ser defendido pelo trabalho duro.

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Co-criação: isso é realmente poderoso. Conseguimos aproximar tanto a nossa cliente a ponto de senti-la como parte do time. Diariamente ela tem espaço para co-criar, interagir e discutir sobre os problemas de negócio. Mas muito mais que a nossa cliente, precisamos do time junto, construindo e participando das definições para ter ownership e trazer mais segurança e comprometimento. Sem autonomia o time só segue ordens e não se importa com os resultados.

Porém, às vezes mesmo trazendo o time para a co-criação, você não consegue ver esse comprometimento, e isso se dá por vários fatores que podem estar relacionados ao contexto do time, produto, organização ou pessoal, e esse foi o desafio em que me encontrei.

Entender as pessoas na sua essência é algo muito difícil, mas com a convivência você acaba percebendo as particularidades de cada um, e quando você tem uma cultura de 1:1s e feedbacks recorrentes isso se torna mais visível. Continuar com esses momentos é extremamente importante para entender como as pessoas estão se sentindo, onde elas precisam de ajuda, o que tem gerado desconforto, ou o que não tem agradado, ou como você pode contribuir com pontos de melhoria para a jornada delas. Porém, isso também não é nenhuma tarefa fácil, até mesmo quando você já convive com as pessoas por um tempo.

Construindo um time de produto seguro de si

Muitas vezes nosso maior inimigo aqui é o ego, o qual evitamos até mesmo falar dele.

Gosto de uma parte que a Brené Brown trás em um de seus livros sobre o ego:

“Ego é um trapaceiro interior, é a voz na cabeça que leva a fingir, atuar, agradar e buscar a perfeição, adora estrelinhas douradas e anseia por aceitação e aprovação, não está interessado na plenitude, apenas na proteção e admiração.

Nosso ego fará quase tudo para evitar ou minimizar o desconforto associado à vulnerabilidade ou mesmo a curiosidade porque o risco é grande demais. O que os outros vão pensar? E se eu descobrir algo desagradável ou desconfortável a meu respeito?

É para proteger o ego e nos encaixarmos que buscamos uma armadura quando achamos que há risco de não recebermos aprovação ou respeito, porque podemos estar errados ou não ter todas as respostas, ou não parecer inteligente o bastante.”

Eu já me peguei, e ainda me pego, muitas vezes nessa situação do ego. E quem nunca?

Quem quer mostrar suas fraquezas? Quem não tem medo de ser julgada ou mal interpretada?

Com esse ego, até muitas vezes inconsciente, vamos evitando a vulnerabilidade, a exposição e o comprometimento com novos desafios. Assim, as pessoas entram no automático de só entregar o que é pedido – principalmente se existem fatores que estão contribuindo para a desmotivação -, não participam tanto nas reuniões – onde o silêncio toma conta e torna tudo constrangedor -, e vão aos poucos deixando algumas pessoas mais sobrecarregadas que outras com as atividades do dia a dia.

Criar espaços, assumir humildade, ser exemplo de vulnerabilidade, mostrar que todas estão aprendendo, que tem abertura para questionar e serem questionadas e incentivar discussões ao redor dos problemas vai ser o caminho mais curto para se alcançar o primeiro pilar de um time de alta performance que é a confiança.

Quando a vulnerabilidade começa, principalmente, pela liderança, que passa o máximo de contexto para o time para que todos entendam porque aquilo é importante, mostrando que estão abertos aos questionamentos do time – bem como quando dizemos que não sabemos algo, mas que pode ser construído junto porque confiamos no trabalho do time -, faz com que o time tenha empatia e melhor entendimento de quão orientado ao objetivo do negócio ele precisa caminhar.

Nem sempre você vai ter tudo 100% de ponta a ponta, seja um card refinado ou um entendimento do negócio, e tá tudo bem, mas quando você traz essa visibilidade para o time e que precisa iniciar do jeito que está, a evolução vai acontecer naturalmente com um maior apoio das pessoas.

Revisando o alinhamento com o time

Também é muito comum ter tantos problemas acontecendo ao mesmo tempo, o que torna mais difícil a missão de deixar todas as pessoas na mesma página. Fazer dinâmicas de análise de causa raiz desses problemas, junto ao time, para refletir sobre cada um deles, é uma ótima prática que ainda pode gerar uma documentação valiosa e alguns itens de ação pontuais. Sem contar que reforça muito a cultura de buscar soluções e não culpados nesses momentos!

Paulo Caroli costuma dizer que se você não tem tempo pra fazer uma retrospectiva então é porque você precisa de duas, e isso é muito verdade. Ter retrospectivas com o cliente (como é o nosso caso) é muito bom, e principalmente focando na melhoria contínua, trazendo a discussão para os aprendizados e relembrando ao longo da sprint os novos pontos de atenção. Porém, por ter uma cliente junto, às vezes o time não se sente confortável em falar algumas coisas específicas. Então, sempre que possível, fazemos outra retrospectiva interna e mais objetiva, com foco no time. Isso nos ajuda muito, pois abre espaço para discussões voltadas a outras necessidades.

Prezar pela diversidade sempre, ter diferentes pontos de vista e diferentes soluções para o mesmo problema é valioso, mas mais valioso ainda é o quanto isso nos torna pessoas mais empáticas e com compaixão pelo próximo. As pessoas têm visões de mundo completamente diferentes, e quando convivemos em times diversos, a empatia não vai fazer a gente ver pela mesma ótica, pois seria impossível colocar as mesmas lentes. Cada um tem um contexto muito único na sociedade, mas nos ensina a ter respeito e respeito pelas diferentes opiniões.

Não acaba quando termina

Organizar o post-mortem do produto foi uma das melhores experiências e que pretendo continuar com as próximas entregas. Refletir sobre os erros e acertos antes de começar o próximo desafio nos deixa com um sentimento de estar preparado para um novo, principalmente quando você envolve a cliente junto. Ela sente confiança suficiente para trazer um novo produto ao seu time, e ouvir o orgulho e admiração da sua cliente em ter alcançado um objetivo junto ao time não tem preço.

Team buildings/outings são legais e precisam ser feitos constantemente para aproximar as pessoas em momentos descontraídos, porém isso pode amenizar a situação só pontualmente enquanto você não resolver a causa real do problema do dia a dia.

Se mesmo assim, ainda existir pessoas que não conseguem se comprometer tanto quanto gostaria, a frustração e desmotivação ainda tem tomado conta, então esse é o momento de entender o que motivaria essas pessoas, e amadurecer a ideia de colocá-las em outras frentes, produtos, times…

Gostaria de fechar dizendo que ainda estamos em processo de construção do time de produto, e ter refletido que sem meu time motivado e engajado não poderíamos entregar o que era esperado, independente do que estivesse na nossa mão, foi crucial.

Apesar de trabalharmos com tecnologia, nós também trabalhamos com pessoas que têm sentimentos, necessidades, e cada uma em seu contexto e jornada. E se não alinhar isso junto ao seu produto, algum lado vai falhar no final e, muito provavelmente, pode ser a sua entrega.

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