Design Thinking no mercado imobiliário para aumentar as vendas
Talita Lima

Talita Lima

15 minutos de leitura

Panorama do Mercado de Produto

O Design Thinking não é visto como um processo e sim uma abordagem, pois em cada cocriação podem haver variações nas ferramentas aplicadas. Existem etapas a serem seguidas, para dar uma visão 360° do problema a ser resolvido, mas o facilitador escolhe quais serão as ferramentas utilizadas em cada etapa.

O Design Thinking é a união da criatividade no nível individual e a inovação no nível colaborativo. Os participantes aprendem primeiro para depois construir, realizando um movimento inovador centrado no ser humano, trazendo a solução para um problema complexo ou desentendido. A palavra inovação não está ligada à complexidade, uma vez que existem soluções simples que resolvem o problema do usuário.

De acordo com BRENNER e UEBERNICKEL (2016), Design Thinking é definido como: mentalidade, processo e caixa de ferramentas

Modelos do Design Thinking e suas respectivas etapas

Antes de explicar como o Design Thinking contribuiu para a performance de um time de Vendas no setor imobiliário, vale contextualizar também que existem modelos para serem seguidos nessa abordagem. Aqui separei os 3 mais conhecidos:

  • O modelo da IDEO tem 3 etapas: inspiração, ideação e implementação;

Não existe o modelo certo ou errado. É importante testar e entender o que faz sentido para o problema analisado.

Nesse estudo de caso utilizamos o modelo 3, ou seja, o modelo da Universidade de Stanford, principalmente por ser um modelo muito utilizado em cursos. Então esse artigo vai se aprofundar nesse modelo.

E para se aprofundar no tema Design Thinking – desde o surgimento e explicação da abordagem até indicações de cursos – recomendo este artigo.

Aplicação do Design Thinking no mercado imobiliário durante a pandemia

Em maio de 2019, uma equipe da Lopes (empresa do setor imobiliário) enfrentou problemas para vender imóveis em tempos de Covid-19. Como sabemos, esse foi um dos segmentos que mais sofreu durante a pandemia.

Então a equipe reuniu-se para aplicar o Design Thinking, pensando em encontrar nessa abordagem uma solução para melhorar a motivação dos vendedores na oferta imóveis, assim como a performance das vendas. Como já mencionei antes, o modelo utilizado foi o da Universidade de Stanford, com 5 etapas.

modelo de double diamond para Design Thinking segundo a Universidade de Stanford

O duplo diamante representa o momento de criar alternativas (divergir) e fazer escolhas (convergir). O processo converge na etapa 2, diverge na etapa 3 e converge novamente na etapa 4.

A seguir vamos entender como foi o passo a passo de aplicação do estudo de caso, apresentando algumas das ferramentas que auxiliam na abordagem e que foram utilizadas nesse contexto. Porém vale ressaltar que há uma infinidade de ferramentas para cada etapa, sendo de responsabilidade do facilitador do processo definir qual ferramenta é mais apropriada para o movimento inovador.

1. Empatia

O significado da palavra empatia, é sentir a dor da outra pessoa em determinado contexto. É muito além do que calçar o sapato do próximo, porque o sapato pode não ser do mesmo número que o seu. Sendo assim, é quando existe uma afinidade grande que se consegue compreender a dor da outra pessoa, a ponto de não fazer julgamentos.

O Design Thinking começa com um problema a ser estudado. A etapa de empatia tem o objetivo de entender esse problema, recebendo informações até ter o mesmo sentimento do “dono” do problema que será resolvido.

Para criar empatia é possível realizar entrevistas, investigar a fundo informações ou ir até o local do problema para vivenciar a “dor”. Algumas ferramentas que podem ser utilizadas nessa etapa são:

Nessa etapa do estudo de caso foram utilizadas as ferramentas 5 Porquês e Mapa da Empatia.

5 Porquês

Nesse framework, os participantes definem o problema e fazem 5 perguntas iniciadas com “por que”. Ou seja, é preciso responder 5 vezes o porquê existe esse problema, assim os participantes vão chegar até a causa raiz. Sendo assim, o teste ajuda na investigação do problema que está sendo estudado.

No nosso estudo de caso, a ferramenta dos 5 Porquês foi aplicada sob 2 óticas. A primeira na visão cliente e a segunda na visão consultor de imóveis.

Na visão do cliente, o problema inicial foi a dificuldade de converter as tratativas de Vendas:

  • Por que temos dificuldade na conversão de vendas? Porque explicamos o projeto para o cliente e na hora de agendar a visita o cliente some;
  • Por que o cliente some? Porque ele não se sente seguro para ir até o plantão de vendas;
  • Por que o cliente não se sente seguro? Porque o momento de pandemia é incerto e muitas surpresas podem acontecer;
  • Por que o momento da pandemia é incerto? Porque muitas pessoas estão sendo contaminadas, e alguns setores estão sendo atingidos;
  • Por que muitas pessoas estão sendo contaminadas e muitos setores estão sendo atingidos? Porque estamos vivendo um momento pandêmico que infelizmente está atingindo empresas e famílias.

Na visão do consultor de imóveis, foi discutida a importância de converter as tratativas em vendas.

Por que queremos converter as tratativas em vendas? Porque trabalhamos com vendas, é a nossa profissão;

  • Por que é a profissão de vocês? Porque nos identificamos e gostamos dela;
  • Por que se identificaram e gostaram dessa profissão? Porque “dorme pobre e acorda rico”;
  • Por que “dorme pobre e acorda rico”? Porque vendemos imóveis de valores variados;
  • Por que vendem imóveis de valores variados? Porque abrangemos todas as classes.

A partir das respostas, podemos ver que na ótica do cliente o momento pandêmico era algo que impactava muito, pois o cliente sentia insegurança ao aplicar o seu dinheiro com tantas incertezas vivenciadas.

Mas, do outro lado, na visão do consultor de imóveis, não existia algo mais importante do que vender. Essa ferramenta ajudou a enfatizar que mesmo em tempos de COVID-19, o consultor de imóveis gosta da profissão e precisa se adaptar para cumprir com seus compromissos financeiros.

Mapa da Empatia

O Mapa da Empatia é um quadro dividido em 6 partes que ajuda a entender o cliente investigado. Para cada etapa há uma pergunta na qual os participantes colocam a sua percepção dos sentimentos do cliente, pessoa ou usuário que está tendo o problema.

modelo de mapa da empatia

No estudo de caso sobre Design Thinking no setor imobiliário, todos os participantes colocaram os post-its no mapa, pensando na ótica do cliente.

Com quem quero ter empatia?

  • Casal, jovem, sem filhos que quer sair do apartamento de 45m² para um maior;
  • Mulher, solteira, meia-idade;
  • Casal com 2 filhos.

O que essa pessoa precisa fazer?

  • Assinar o contrato para comprar o imóvel;
  • Ir conhecer o imóvel.

O que vê?

  • Oportunidade;
  • Enxerga que pode melhorar a proposta;
  • Pandemia.

O que diz?

  • “Não pretendo sair de casa”;
  • “Quero aguardar um pouco”;
  • “Pode me mandar o material?”

O que faz?

  • O cliente aguarda as condições da pandemia.

O que escuta?

  •  O cliente escuta a proposta do corretor de imóveis.

O que sente e pensa?

  • Suas dores;
  • Na diminuição do salário;
  • Em perder o emprego.

Ganhos

  • Comprar o apartamento dos sonhos com uma boa negociação.

Outros pensamentos ou sentimentos que motivam o seu comportamento?

  • Contaminação pela Covid-19.
mapa da empatia preenchido

2. Definição

Nessa etapa, depois de receber muitas informações sobre o problema e adquirir contexto sobre o que foi abordado, é o momento de tomar a decisão e definir qual é a causa do problema que será solucionado.

Alguns exemplos de ferramentas são: quadro de ponto de vista, frase de ponto de vista, personas e Matriz CSD.

Nesse case, as utilizadas foram a frase de ponto de vista e a Matriz CSD.

Frase de ponto de vista

A frase do ponto de vista é uma ferramenta bem objetiva, que cria a seguinte narrativa:

Como podemos (ação) para (quais pessoas) para que (com qual resultado)?

Nessa aplicação do Design Thinking no setor imobiliário, a frase ficou:

Como podemos converter em vendas as nossas ofertas para que os clientes de diferentes níveis sociais comprem os imóveis da Lopes?

Matriz CSD

A Matriz CSD representa as certezas, suposições e as dúvidas do problema que está sendo discutido (saiba mais sobre o framework aqui). Em um Discovery com Design Thinking, quanto maior o número de certezas mais maduro está o processo de descoberta para seguir para a etapa de ideação. Se os participantes possuem muitas suposições e dúvidas, é importante validar as informações, fazer pesquisas, entender de fato o que se passa, buscando fazer com que o número de certezas seja sempre maior.

modelo de matriz CSD

Na Matriz CSD, os participantes colocaram 4 post-its em “certezas” e 1 em “suposições”:.

Certezas:

  • Os clientes estão com medo de fazer um investimento imobiliário;
  • Mesmo com tudo incerto, é possível;
  • Tudo irá passar;
  • O corretor precisa se animar para vender.

Suposição:

  • Se desenvolvermos coisas internas, vamos vender.

3. Ideação

Após ter a definição do problema, é o momento de fazer o levantamento de ideias. Não existe ideia certa ou errada, tudo é válido nessa fase do processo.

Ferramentas que podem ser utilizadas nessa etapa são: brainstorming, fluxograma e storytelling.

Aqui utilizamos o brainstorming dividido em 3 etapas. Para cada etapa os participantes tiveram 5 minutos para colocar as ideias. O resultado foi o seguinte:

1 etapa:

  • Montar um site na plataforma Google sites para compartilhar com o cliente as informações dos projetos;
  • Fazer anúncios em redes sociais;
  • Trabalhar a motivação e se esforçar. Acreditando em Deus, teremos lindos resultados;
  • Pedir para amigos e parentes compartilharem os anúncios;
  • Aumentar a flexibilidade com relação a valores e descontos;
  • Passar para o cliente as medidas de segurança que a empresa imobiliária tomou na quarentena. Para aumentar a segurança de conhecer o projeto.

2 etapa:

  • Mudar o script para atingir mais clientes;
  • Continuar fazendo a oferta ativa;
  • Dar kit segurança para o cliente (álcool e máscara);
  • Atendimento com segurança (em termos de contaminação) e hora marcada;
  • Exercitar a mente;
  • Criar cronograma diário: fazer 50 ofertas ativas, posts criativos nas redes sociais e o mais importante: um motivar o outro, não desanimando por conta de clientes curtos e grossos;
  • Ao entrar em contato com o cliente, não falar com voz de tristeza.

3 etapa:

  • Vender é energia, sempre que começar uma oferta ativa, passar essa energia boa ao cliente;
  • Ao acordarem, lembrarem das coisas boas que já aconteceram na vida. Assim vão iniciar o dia com positividade;
  • Abordar o cliente com uma energia boa;
  • Buscar clientes até encontrar pessoas interessadas independente de pandemia;
  • Entender a necessidade do cliente;
  • Passar segurança para o cliente.

Vale reforçar aqui que durante a ideação todos precisam contribuir, livres de julgamentos. 

4. Prototipação e teste

Após coletar todas as ideias é o momento de definir e refinar as ideias que serão levadas para a construção do protótipo. O protótipo pode ser de baixa fidelidade, o único requisito é conseguir a validação com ele.

Nessa etapa pode ser construído um wireframe, construção de maquete, utilização de legos, figma, etc.

Após prototipar, a próxima etapa é realizar testes com os usuários. Esse é o momento de validar a solução e aprender com ela. A validação ocorre com o usuário/cliente, ou seja, o stakeholder que é o dono do problema inicial.

Os participantes ficam atentos às expressões do cliente no momento da apresentação da solução, e se existir ajustes a serem feitos, é preciso fazer posteriormente uma nova apresentação com todos os ajustes. 

No case da Lopes não foram realizadas essas 2 etapas com os participantes. Mas ficou de “lição de casa”, pegarem todas as ideias e colocarem em prática. Daí surgiram ideias que foram desde a mudança de mindset até algumas mais comportamentais. Além disso, foram sugeridas melhorias no tom de voz, mais persistência na hora de falar com os prospects e adaptações no script de vendas para passar segurança ao cliente.

Resultados obtidos

A equipe estava de janeiro a maio sem realizar vendas. O workshop de Design Thinkink aconteceu no dia 25/05/2019. A partir de junho a julho, a equipe já tinha realizado 11 vendas! Isso mostra o quanto a abordagem do Design Thinking foi importante para quebrar paradigmas e trabalhar a autoconfiança no momento do contato entre consultor imobiliário e cliente.

quantidade de vendas do setor imobiliário com Design Thinking

Conclusão

O Design Thinking trabalha na mudança de mindset, pois a abordagem constrói uma linha de raciocínio para os participantes atingirem o famoso momento eureka, ou seja, quando as ideias surgem na hora certa.  

É uma abordagem de resolução de qualquer problema, e é válido mencionar que problema é tudo que precisa de uma solução. Através das etapas e ferramentas, é possível encontrar a solução e acompanhar os resultados. 

Com o Design Thinking também é possível praticar o ciclo de melhoria contínua, quando se quer atingir novos patamares (valores inalcançáveis anteriormente). 

Com essa abordagem, é possível encontrar desde soluções simples e com baixo custo, até as mais complexas. Para cocriar, melhorar resultados, reduzir custos e otimizar tempo, por exemplo, é só escolher o melhor modelo para a sua situação e seguir as etapas com as ferramentas escolhidas.

Referências:

LIMA, Talita S. Processo baseado no Design Thinking para identificar medidas para gerenciamento de software. Trabalho de Conclusão de Curso (MBA em Tecnologia de Software) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2020.

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