Jornada do usuário: o que é, como montar e ferramentas
Priscilla Lugão

Priscilla Lugão

Coordenadora de Produto da PM3

12 minutos de leitura

Aqui no blog da PM3 já falamos sobre jornada de compra e jornada de monetização em Produto. Agora é a vez de falar mais sobre isso, partindo de uma perspectiva de usuário de produto. De forma direta, a essência da jornada do usuário está no planejamento completo da experiência do usuário dentro de um produto digital. Mas o que isso realmente quer dizer? Como de fato executar essa estratégia? É sobre isso que vamos falar ao longo deste artigo!

O que é jornada do usuário?

Até onde sabemos as empresas não escolhem entregar experiências ruins para seus usuários, mas tenho certeza que você teve pelo menos uma experiência ruim no último mês. Existem infinitas causas para esse problema, falta de alinhamento entre equipes, desconhecimento das dores e necessidades do usuário, processos mal construídos, e por aí vai. 

Independente de qual seja a causa raiz, sabemos que mapear e planejar a jornada do seu usuário pode performar pequenos milagres dentro de uma empresa. Esse planejamento não serve apenas para Product Designers ou para os Product Managers, serve para qualquer pessoa envolvida na prestação do serviço, sim, eu disse “qualquer pessoa”. 

Nesse texto vou te mostrar algumas formas diferentes de mapear e planejar essa jornada para além da ferramenta “clássica” do Design de Serviço e experiência do usuário. Quero frisar que, apesar do foco maior de algumas ferramentas e estruturas não ser as atividades do usuário diretamente, é a partir delas que se mapeiam as ações e lacunas do serviço, quando seguimos a lógica contrária, o serviço fica orientado para dentro e não para a entrega de valor ao cliente, virando um mapeamento de fluxo de processos e não da jornada da experiência.

Já aviso de antemão que esse não será um texto explicando o uso da ferramenta nem um passo a passo engessado, a minha intenção aqui é te mostrar as possibilidades e formato que essa jornada pode ter e como você pode escolher o melhor para o seu contexto e para sua equipe.

Benefícios de mapear a jornada do usuário

A jornada ideal do usuário é aquela que consegue criar um ciclo completo de interação entre cliente e marca/produto/serviço. Sendo assim, podemos dizer que investir tempo e esforço para entender como se desenvolve essa relação com os clientes do seu negócio é, por si só, um benefício.

No entanto, podemos mencionar algumas outras vantagens, como:

  • Credibilidade: já que é um processo que ajuda a identificar e corrigir falhas;
  • Alinhamento e comunicação: mapear a jornada do usuário é muito útil para times que trabalham com OKRs e outros sistemas de acompanhamento de resultados, já que o alinhamento com líderes e outras equipes também fica mais transparente;
  • Tomada de decisão baseada em dados: os dados coletados durante o mapeamento da jornada do usuário podem ser usados para embasar decisões relacionadas ao roadmap do produto;
  • Inovação centrada no cliente: o mapeamento da jornada do usuário fornece insights que podem ser usados para orientar a inovação. É possível identificar oportunidades para criar novos recursos ou produtos com base no feedback dos usuários.

Observações sobre o mapa da jornada do usuário

Antes de seguirmos, vamos deixar alguns pontos claros:

  • Partimos do princípio de que a jornada precisa servir como uma ferramenta de comunicação visual e alinhamento entre equipes, além de ajudar no exercício de empatia;
  • A ferramenta tem que conseguir nos mostrar os passos da experiência do usuário e como ele interage com o produto ou serviço;
  • Ferramentas de mapeamento de jornada exploram a geração de valor do serviço e facilitam a identificação de oportunidades do negócio;
  • Podemos usar jornadas como diagnóstico de uma experiência bem como planejamento do futuro do serviço;
  • Todo mapeamento de jornada deve ter claro o ponto de vista que está explorando. Em casos de um marketplace, por exemplo, a jornada pode ser do ponto de vista da empresa que está fornecendo um serviço ou do consumidor final. Tenha isso bem claro antes de começar qualquer mapeamento.

Como montar o mapa de jornada do usuário: diferentes estruturas

As jornadas podem vir de diversas formas, tamanhos e estruturas. Cada uma tem suas particularidades e ferramentas, vamos passar por cada uma das 4 estruturas principais com dicas de ferramentas que obedecem o formato.

Cronológica

Boa parte das experiências em produto e serviços tem uma cronologia de ações, ou seja, os passos que o usuário segue uma linha do tempo. Essa forma de mapeamento da jornada do usuário é a mais comum em times de Design e Produto e ajuda a seguir o curso natural do usuário pelo produto e entender a sequência de ações e qual a relação entre elas.

Algumas ferramentas que apoiam essa estrutura de jornada do usuário são:

Service Blueprint

A ferramenta de Service Blueprint reúne várias camadas de informação sobre o usuário e a operação da empresa em um único mapa visual. Esse formato, apesar de simples, pode deixar muito claro visualmente os pontos de atrito da experiência, onde o usuário pode se sentir desamparado ou perdido, os WOW e “Aha! Moments”. Resumidamente, ele mostra com clareza os pontos de falha e deleite do serviço/produto e permite que a equipe identifique e aja rápido.

service blueprint na jornada do usuário

O foco aqui é entender a provisão do serviço e como a empresa entrega a experiência para o usuário, o Blueprint é usado como forma de diagnóstico para melhoria de pontos específicos da jornada e das interações entre empresa e cliente. Nesse caso tratamos o cliente como um receptor de um serviço e o ponto de vista dele, apesar de ser representado visualmente não é o foco.

Mapa de jornada do cliente

A jornada do cliente é uma ferramenta derivada do Service Blueprint, se assemelhando muito à forma, mas com diferenças no ponto de vista, escopo, uso e foco.

Aqui o foco é no usuário do serviço e vislumbramos a experiência completa (desde a identificação da necessidade até a relação com o serviço terminar). A intenção é melhorar e otimizar a experiência e pontos de contato do cliente levando em conta o nível de satisfação do usuário em cada fase da jornada, suas quebras de expectativa, sentimentos e outros fatores qualitativos.

mapa da jornada do usuário

Espacial

Uma outra forma de mapear jornadas e experiências é a espacial. Muito utilizada quando o serviço/experiência se dá em um lugar físico (uma cafeteria ou um festival de música, por exemplo). Também pode ser usada quando queremos dar sentido metafórico para as etapas das jornadas, representando-as em 3D como se fossem espaços.

Algumas ferramentas com essa estrutura são:

Projeções isométricas

São os mapas espaciais mais comuns que vemos por aí, é uma forma de ilustrar espaços e objetos tridimensionais em duas dimensões. Nesse caso conseguimos tornar visual a interação do usuário com os elementos físicos do espaço e entender como funciona o fluxo, inclusive podendo prever possíveis atritos dependendo da disposição dos elementos.

projeções isométricas para mapeamento de jornada do usuário

No caso da figura acima as linhas em cinza indicam fluxos possíveis dos usuários entre os pontos da experiência.

Modelos de ecossistema

Essa ferramenta nos dá uma visão holística da relação entre diversos provedores de serviço dentro de uma jornada. Ela nos dá visão de todas as entidades, fluxos e relações que permeiam a jornada do usuário. 

Aqui exploramos o “o que”, “por que”, “como”, “quem”, “quando” e “onde” de cada parte desse ecossistema.

modelos de ecossistema na jornada do usuário

Hierárquico

Quando mapeamos experiências dessa forma removemos a variável “tempo” da análise. Essa forma é interessante quando temos várias ações acontecendo ao mesmo tempo em paralelo, o que dificulta a visualização cronológica.

Algumas ferramentas com essa estrutura de jornada do usuário são:

Mapa hierárquico

Os mapas hierárquicos também podem ser chamados de “modelos mentais”, mas para evitar a confusão com a ferramenta que veremos em “estrutura em rede” vamos manter o nome Mapa Hierárquico, tudo bem?

Uma das ferramentas mais complexas que temos, foi publicada por Indi Young  em seu livro “Modelos mentais”. Nela mapeamos as tarefas do usuário, inclusive pensamentos, reações e princípio condutores da pessoa, depois agrupamos essas informações em “torres” para formar grupos de afinidade. Todo o mapeamento que se refere ao usuário é chamado de modelo mental, mas também separamos o que são as ações de suporte.

mapa hierárquico

Estrutura em rede

Com essa estrutura mostramos em forma de teia as inter-relações da experiência de forma não cronológica. Ou seja, como as ações se relacionam e como interagem umas com as outras sem levar em conta o que veio primeiro.

Algumas ferramentas com essa estrutura são:

Mapa mental

O mapa mental tem infinitos recursos visuais. Pode-se usar do tamanho dos elementos, cor, formato, ou direção para comunicar diferentes aspectos. Por ser uma ferramenta mais abrangente e sem um formato bem definido vamos usar o exemplo do Booking.com para identificar esses recursos visuais. 

Nesse exemplo de jornada do usuário usando mapa mental da Booking.com, o foco era mostrar os pontos de contato. Da mesma forma, o objetivo era identificar se eles levam a uma experiência negativa (círculos em cinza) ou positiva (círculos em azul), destancando também a frequência com que aquele feedback foi mencionado (tamanho do círculo). Além dos círculos foram usados os retângulos laranja para destacar os pontos de deleite da experiência e dar mais informações sobre aquele ponto específico.

mapa mental para jornada do usuário

E quando uso cada um?

Vimos as 4 principais estruturas e já te adianto que nem todas as ferramentas que seguem a mesma estrutura tem o mesmo foco ou ponto de vista, mas quero trazer as linhas gerais das principais diferenças entre elas!

quando usar cada estrutura de jornada do usuário

Conclusão

Existem diversas formas de montar o seu mapeamento de jornada do usuário. Como vimos, a escolha da estrutura depende de contexto, ponto de vista e objetivos atrelados à essa maneira de pensar na experiência dos usuários do seu produto. Portanto, vale considerar essas dicas e conversar com seu time para aproveitar ao máximo os insights que você pode obter para sua estratégia de produto.

Quer se aprofundar mais em como mapear a experiência do seu usuário? Deixei aqui algumas dicas para você:

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